Governo emparedado

Alisson Matos
Publicada em 20/10/2024 às 10:51
Há risco de, definida a posição petista na eleição, sobrarem constrangimentos públicos e rebelião de aliados governistas Foto: Agência Enquadrar/Folhapress

Na busca do apoio do governo e do PT, candidatos à presidência da Câmara estão tentando emparedar a articulação política de Lula. Os movimentos recentes dos postulantes colocaram o Palácio do Planalto “em uma sinuca de bico”, avalia uma fonte da base aliada em conversa com o Bastidor.

Há risco de, definida a posição petista na eleição, sobrarem constrangimentos públicos e rebelião de aliados governistas até o fim do mandato de Lula.

Os candidatos vendem que a posição da bancada petista será determinante na disputa. A avaliação contraria a opinião de parte dos deputados do partido, que veem o PT a reboque das decisões do Centrão. Não há unanimidade sobre que nome apoiar para o comando da Câmara.

Nesse vácuo de posição, Antônio Brito (PSD-BA), preferido de muitos petistas, e Elmar Nascimento (União Brasil-BA) nos últimos dias viajaram com Lula, estiveram com ministros, ofereceram a vice-presidência da Câmara e foram a Fortaleza apoiar o candidato do PT, Evandro Leitão, para a prefeitura. O adversário é André Fernandes, do PL.

Em conversas com petistas, Elmar tem repetido que o União Brasil, sob sua liderança na Câmara, entregou ao governo mais votos do que PSD e Republicanos. Argumenta que só ficou atrás do próprio PT nas matérias de interesse do Palácio do Planalto.

O adversário de Elmar e Brito, Hugo Motta (Republicanos-PB), ainda não conseguiu a mesma proximidade com o governo. Reuniu-se com a bancada do PT e ofereceu a primeira secretaria, cargo menor do que a vice-presidência. Não convenceu boa parte dos deputados sobre levar adiante ou não uma possível discussão sobre anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro e aos condenados pelo 8 de janeiro. Também não fez acenos a candidatos de Lula nas eleições municipais.

Mesmo assim, o líder do PT na Câmara, Odair Cunha, já deixou claro mais de uma vez que seu preferido é Motta, o que causou estranheza e atritos entre os próprios petistas.

O governo Lula não bateu o martelo sobre o seu candidato. Não vetou Motta, mas torce por um nome sem tanta proximidade com o ex-deputado Eduardo Cunha e com o senador Ciro Nogueira (PP-PI).

O apoio do PT a Motta, que é o candidato de Arthur Lira (PP-AL), só virá se não restar alternativa - não sem os constrangimentos de estar ao lado de Cunha e Ciro, a reboque do Centrão e sem a garantia da não anistia a bolsonaristas. O PT terá ainda que rebater discursos de que optou por quem menos ofereceu, já que, nesse caso, a vice-presidência ficaria com o PL.

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