Análise: Dimas Covas distorce estudo sobre Coronavac
O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, distorceu hoje (12) um estudo que tentou identificar o desempenho da Coronavac frente à variante ômicron. Dimas e o Butantan venderam que o tal estudo demonstra que a vacina da Sinovac "neutraliza" a ômicron - e a combate melhor do que o imunizante da Pfizer. A informação causou confusão no público e perplexidade na comunidade científica.
Falho e limitado, o pequeno estudo não permite a conclusão apresentada pelo chefe do Butantan. É difícil supor que Dimas Covas, um profissional qualificado, não saiba disso.
O estudo em questão foi feito por pesquisadores chineses. Em síntese, eles apontaram que vinte amostras de plasma de pessoas imunizadas com duas doses de Coronavac apresentaram perda de anticorpos neutralizantes contra a ômicron na ordem de 12,5 vezes. Numa decisão metodológica heterodoxa, sem explicação, resolveram excluir do cálculo quaisquer amostras com anticorpos abaixo de determinado nível.
Em seguida, fizeram um comentário cientificamente absurdo, no qual comparam laranjas com bananas. Citaram dois estudos distintos para afirmar que os resultados mostravam que a Coronavac apresentava menor perda de anticorpos contra a ômicron do que a vacina da Pfizer. Esse trecho facilitou o corolário enganoso de que, em suma, a Coronavac protege mais ("neutraliza") do que a Pfizer contra a ômicron.
Por definição, é evidente que os outros estudos citados pelos pesquisadores chineses usaram outras amostras e metodologias absolutamente distintas. Basta verificar as pesquisas. São incomparáveis.
Os autores do estudo citado hoje pelo Butantan também não mencionaram que vacinas de RNA mensageiro, como a da Pfizer, tendem a produzir mais anticorpos do que as de vírus inativado, como a Coronavac. A alegada perda menor de potência da Coronavac, caso proceda, não compensa o número absoluto de anticorpos produzidos pela vacina da Pfizer.
Imunologistas consultados pelo Bastidor confirmaram as aparentes falhas primárias do estudo chinês e a conclusão distorcida de Dimas Covas.
A imunologia ensina que não é possível falar de eficácia ou efetividade de vacinas meramente por meio de estudos laboratoriais, como o dos pesquisadores chineses. Nesse sentido, eles têm serventia limitada, de sugerir caminhos para novas pesquisas. O comportamento do vírus in vitro -no caso, pseudovírus, criados artificialmente - não se compara com o comportamento do vírus vivo.
Ademais, a imunidade não se resume a anticorpos. A chamada resposta imune é mais complexa - e isso não é diferente no caso do coronavírus. Envolve a ação de anticorpos e de células T e B frente, por exemplo, a um vírus. A participação das células T e B no combate ao patógeno é frequentemente esquecida, apesar da extrema relevância delas. (É mais simples tentar medir anticorpos em laboratório do que estudar a ação complexa dessas células.)
Após um ano de aplicação ao redor do mundo, a Coronavac mostrou-se uma vacina segura. Ainda há dúvidas sobre sua real efetividade, embora seja certo que ela oferece proteção contra o coronavírus original e as variantes dele.
É irrefutável, porém, que a comunidade científica e médica acumula evidências de que vacinas de RNA mensageiro tendem a oferecer um nível de proteção ainda mais elevado. O mesmo vale para vacinas de adenovírus modificado, como a da AstraZeneca e a da Janssen.
Em vez de comparar efetividade de vacinas, os cientistas sérios estão ocupados em descobrir quais os esquemas de imunização mais adequados a cada população ou país. Isso envolve pesquisar combinação de vacinas distintas, assim como o uso de doses de reforço - e com qual frequência. O comportamento de gestores como Dimas Covas não contribui para esse debate e para a evolução do entendimento sobre as melhores maneiras de imunizar os brasileiros.
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