Amarrando as pontas

Samuel Nunes
Publicada em 26/11/2024 às 20:00
Relatório da PF sobre investigação da tentativa de golpe completa lacunas que tinham gerado dúvidas. Foto: Divulgação/PF

O relatório de mais de 800 páginas da investigação da Polícia Federal, liberado nesta terça-feira (26), conta com detalhes a história da fracassada tentativa de golpe de estado para manter Jair Bolsonaro no poder. Pela primeira vez, Bolsonaro aparece no centro da ação, como líder do grupo golpista que atuou no governo. Entretanto, o ainda existem lacunas em relação à participação de Bolsonaro em alguns pontos capitais.

O material extenso detalha os passos do grupo golpista e entremeia as narrativas com mensagens de texto e depoimentos de testemunhas para formar a história que será contada aos brasileiros no futuro. O documento foi liberado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

O documento detalha, por exemplo, a manipulação de dados promovida por Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, e do Instituto Voto Legal, em um relatório para tentar desacreditar as urnas eletrônicas. Segundo a PF, essa era a principal estratégia de desinformação do grupo liderado por Jair Bolsonaro para criar um clima de instabilidade política que permitisse o golpe.

Trocas de mensagens entre membros do IVL com Valdemar mostram como os dados foram alterados para dar ares de veracidade a um relatório cujo conteúdo era facilmente questionável. Esse documento embasou uma ação do PL que pedia a recontagem de votos, ignorando urnas mais antigas, as quais, em tese, dariam a vitória a Lula. Por causa dessa ação, o partido acabou condenado por litigância de má-fé e ao pagamento de uma multa de 22 milhões de reais.

Há também detalhes sobre como a estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi usada para ajudar a criar narrativas falsas sobre as urnas, com o apoio do então diretor da entidade, Alexandre Ramagem, hoje deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro. Notas encontradas em seu computador mostram como ele atuava para incentivar os devaneios de Bolsonaro sobre a insegurança das urnas e instigava o então presidente a adotar medidas drásticas.

Um dos pontos fortes do documento é a participação dos militares que ajudaram a fomentar a tentativa de golpe. Segundo os policiais, as táticas de divulgação de notícias falsas fazem parte de uma estratégia estudada pelos membros das forças armadas, com o objetivo de difundir uma narrativa em prol de determinado fim – no caso, o golpe contra o resultado das eleições de 2022.

Mensagens de texto entre os investigados mostram indícios de que parte deles mentiu à Polícia Federal, quando questionados sobre as ações que estavam executando. Também mostra detalhes de reuniões preparatórias não só para o golpe e a tentativa fracassada de assassinato do ministro Alexandre de Moraes, do presidente Lula e do vice, Geraldo Alckmin, como a redação de uma carta aberta endereçada aos membros do Alto Comando do Exército, pressionando-os a aderir ao movimento golpista.

A participação de Jair Bolsonaro, segundo o documento, foi ativa. Depoimentos de testemunhas e do principal delator, Mauro Cid, apontam que o ex-presidente participou diretamente de reuniões tanto para a redação da minuta golpista encontrada com o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, como de outros atos relacionados às ações que seriam tomadas.

Os investigadores ainda relacionaram no documento registros de entrada e saída dos palácios do Planalto e da Alvorada, localização de linhas celulares, datas e locais de reuniões não só com o ex-presidente mas, principalmente, com o general Walter Braga Netto. Segundo os policiais, Braga Netto foi um dos principais articuladores do esquema.

Leia a íntegra do relatório

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