Operação Ilha Pura

Karen Couto
Publicada em 15/08/2024 às 18:40
MPF abriu procedimento para investigar a controversa transação entre BTG e Caixa para aquisição do Ilha Pura Foto: Mathilde Missioneiro (F)/Folhapress

A Procuradoria da República no Distrito Federal abriu procedimento para investigar a transação bilionária na qual a Caixa Econômica Federal auxiliou o banco BTG Pactual, de André Esteves, a adquirir o bairro Ilha Pura, no Rio de Janeiro, sob condições altamente vantajosas. O caso foi revelado pelo Bastidor.

A operação teve início em 2022 e foi conduzida pelo grupo do ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães. A negociação envolveu a transferência de uma dívida bilionária da construtora Carvalho Hosken para o BTG, em um acordo sigiloso que beneficiou o banco de Esteves. O negócio foi finalmente fechado na semana passada, mas as condições foram mantidas sob sigilo.

O empreendimento Ilha Pura, inicialmente concebido para abrigar os atletas das Olimpíadas de 2016, enfrentou dificuldades desde o começo. A Caixa começou a financiar o projeto em 2014, em parceria com a Odebrecht e a Carvalho Hosken, mas a crise econômica e a Lava Jato prejudicaram o empreendimento. Com o tempo, a dívida da construtora com a Caixa superou o valor do empreendimento, deixando o banco estatal em uma posição complicada.

Foi nesse contexto que o grupo de Pedro Guimarães interveio, buscando uma solução que envolvia a participação do BTG. Ao longo da negociação, surgiram preocupações sobre possíveis conflitos de interesse, especialmente após a esposa de um dos vice-presidentes envolvidos na transação ter sido contratada pelo BTG.

Documentos internos obtidos pelo Bastidor revelam que a dívida da Ilha Pura com a Caixa, inicialmente estimada em cerca de 3 bilhões de reais, foi renegociada com um desconto de 964 milhões de reais, com o BTG assumindo o saldo restante em condições vantajosas. O banco de Esteves terá um prazo de 12 anos para quitar a dívida, com quatro anos de carência do principal e uma taxa de juros de 2,9% ao ano, sem indexador.

Embora a operação tenha sido justificada por um executivo da Caixa como uma solução para um problema que o banco estatal não conseguiria resolver sozinho, as dúvidas persistem. O MPF agora investiga os detalhes dessa transação.

Os envolvidos na negociação, incluindo Celso Barbosa e sua esposa, Melissa Barros, não quiseram comentar o assunto. A assessoria da Carvalho Hosken alegou questões jurídicas para não se pronunciar, enquanto a Enforce, empresa do BTG que conduziu a operação, também não respondeu aos contatos da reportagem.

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