A charutada do corregedor do Ministério Público
Com apoio de Augusto Aras, o promotor Rinaldo Reis Lima foi nomeado para o CNMP em 2019. Virou corregedor nacional do Ministério Público. Em setembro de 2020, o corregedor do CNMP, responsável por avaliar falhas éticas e legais de seus colegas, participou de uma das famosas “charutadas” promovidas por Fábio Medina Osório, ex-AGU de Michel Temer.
O encontro foi relatado por Rinaldo à ex-procuradora de Justiça da Bahia Ediene Lousado. Ela é investigada pela PF e teve mensagens de WhatsApp extraídas de seu celular. Alguns dos diálogos estão em relatório da PF sobre a operação Faroeste.
O Bastidor já mostrou como Lousado agiu para garantir sua recondução ao cargo, em 2018.
No diálogo com Lousado, Rinaldo conta alegremente os preços dos charutos que fumou e dos vinhos que bebeu com Medina Osório. “Fumei um cubano baratinho, de R$ 150, e outro depois de R$ 220”, detalhou o corregedor do CNMP. Ele mandou até foto para ilustrar os bons momentos narrados.
“Tomamos dois vinhos, um deles de mais de R$ 1 mil”, afirmou em outro momento da conversa.
O assunto levou Rinaldo a falar com Lousado sobre os honorários cobrados por advogados do porte de Medina Osório e dos “humildes benefícios”, segundo Rinaldo, dos procuradores de Justiça. O corregedor do CNMP diz à colega que o advogado teria cobrado R$ 20 milhões para defender um investigado na Lava Jato do Rio de Janeiro.
O investigado, citado como bilionário na conversa, é identificado apenas como um advogado e, de acordo com os diálogos, não teria contratado Medina Osório. Mas Rinaldo parece saber bem como trabalha seu companheiro de charutos.
Diz a Lousado que Medina Osório “sabe os caminhos e os ‘meios processuais’ adequados” e que, “com certeza, nesses vintinho estão incluídas as custas para os julgadores”. Lousado então responde: "cobrando esse valor ele garante o êxito".
Quis o destino que Rinaldo Reis e Medina Osório se reencontrassem meses após essa charutada, mas no CNMP. O advogado representou os ex-senadores Romero Jucá e Edison Lobão em ação contra a força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro.
Os dois políticos implicados em casos de corrupção pediram, em abril de 2021, a demissão de procuradores por divulgação indevida de dados sigilosos. A acusação era embasada num texto divulgado à imprensa com informações da investigação contra os políticos - uma prática comum.

Rinaldo aceitou o pedido e o processo disciplinar foi aberto em 28 de outubro do ano passado. Em seu voto, proferido em setembro de 2021, um ano após a charutada, o corregedor do CNMP disse que os procuradores se "precipitaram" ao divulgarem o material e que o motivo seria a ausência do "zelo necessário" sobre o caso. Defendeu a demissão dos procuradores.
Para a PF, esse contexto, aliado às denúncias de repasses de R$ 500 mil supostamente ilegais a Wilson Witzel (ex-sócio de Medina Osório), seriam indícios suficientes para aprofundar as investigações na Faroeste. O relatório foi apresentado pelos policiais em 22 de outubro de 2021, antes do início do processo contra os procuradores da Lava Jato do Rio. O processo no CNMP ainda tramita. No final do ano passado, Rinaldo foi reconduzido para mais um mandato de dois anos no CNMP. Mas deixou de ser corregedor.
Em nota via CNMP, Rinaldo Reis se limitou a dizer que não conversa com Ediene Lousado desde que foi descoberto que a ex-PGJ da Bahia é investigada na Faroeste - a descoberta dos fatos contra a servidora foi divulgada pouco antes do Carnaval deste ano. Ediene Lousado, a ex-PGJ, informou que não se manifestaria.
O Bastidor contatou Medina Osório, mas não recebeu retorno.
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