Porto Alegre à deriva
Sob o impacto de chuvas inéditas na madrugada e pela manhã, Porto Alegre transbordou nesta quinta, dia 23 de maio de 2024. A capital gaúcha ainda sofria com uma enchente que adentrava sua quarta semana quando uma nova chuvarada - 116 milímetros em 12 horas, algo nunca visto - interrompeu os esforços de recuperação e alagou áreas da cidade que ainda não haviam sido afetadas pela calamidade.
A água não veio apenas do céu. Bueiros devolveram à cidade uma mistura líquida de chuva e esgoto. O asfalto esburacou-se como queijo fofo e, ao menos numa avenida, cedeu por completo. Árvores vergaram-se ou tombaram nas ruas e nas calçadas. Pessoas tiveram que abandonar suas casas. Houve problemas com água, luz e no trânsito. Hospitais tiveram que ser evacuados; aulas, canceladas. Lixo e lama estão por toda parte.
Embora a chuva fosse esperada, mas não nesse volume, a população foi, de modo geral, surpreendida por ela. A Prefeitura de Porto Alegre, chefiada por Sebastião Melo, não alertou as pessoas - nem as orientou sobre como agir. Esse é um padrão de comportamento de Melo. Mesmo com a experiência de tempestades, alagamentos e ventos fortes nos últimos anos, o prefeito segue apenas reagindo, com um fatalismo bovino, aos chamados "eventos climáticos".
A infraestrutura da capital gaúcha - os sistemas de água e esgoto; a rede elétrica; e as construções públicas - é precária e frágil. Isso já era evidente antes da calamidade desse ano. São décadas de descaso, incompetência e atraso, reforçadas por uma gestão amadora. Em vez de se preparar para o pior e torcer para o melhor, Melo e outras autoridades, apesar do esforço de um sem número de servidores, limitam-se a porfiar platitudes e prometer soluções emergenciais. É uma submissão completa às intempéries.
Essa negligência reiterada causa estragos na confiança da população nas autoridades. Os porto-alegrenses já aprenderam que não podem confiar no que o poder público lhes diz. Nem podem esperar orientações de onde elas nunca vêm. Isso explica, em parte, a indignação e o desespero que formam o bordão "o povo pelo povo".
O prefeito de Porto Alegre não está sozinho nessa. Não é o único responsável por esse lamentável estado de coisas. A gestão dele, na verdade, expressa a mentalidade de muitos que militam hoje na política.
Conforme as semanas passam, o governador Eduardo Leite demonstra cansaço e dificuldade de articular soluções para um problema tão complexo. O apoio do governo federal também é insuficiente. A preocupação excessiva, para não dizer obsessiva, de Brasília com "fake news" parece ser uma maneira de evitar a dura responsabilidade de enxergar e enfrentar o desafio como ele é, em sua dimensão colossal.
Até o fim da tarde desta quinta, o ministro Paulo Pimenta, formalmente responsável pela ajuda do governo federal, não havia dito nada publicamente sobre esse nova etapa da catástrofe. Não é por acaso, muito menos em razão de "uma onda de fake news", que parte expressiva da população gaúcha se diz abandonada pelo poder público, em todas as esferas.
Há uma semana, havia cerimônia para celebrar a nomeação de Pimenta. Hoje, com Porto Alegre debaixo d'água e o Rio Grande do Sul paralisado pela calamidade, não há cerimônias públicas - nem vídeos fofos no Instagram de doguinhos resgatados.
As preocupações dos gaúchos são simples: água, luz, comida, teto, cobertores, combustível, remédios, a reconstrução emergencial de rodovias e a reabertura do principal aeroporto do Sul. É uma calamidade que exige uma coordenação de trabalhos entre prefeituras, governo do estado e governo federal, além da participação de outros poderes. Até o momento, e sobretudo num dia de mais pancadas, sofrendo com a incompetência das autoridades, a população gaúcha não consegue aguentar o presente. Quem dirá enxergar algum futuro.
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