O delator do PCC

Karen Couto
Publicada em 08/11/2024 às 19:41
Vinicius Gritzbach fechou delação com o MPSP em junho; ele estava revelando o esquema de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) Foto: Reprodução

O empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, executado hoje (8) no Aeroporto de Guarulhos (SP), era delator em uma das principais investigações contra o Primeiro Comando da Capital (PCC) do Ministério Público de São Paulo. Ex-diretor da construtora Porte Engenharia e Urbanismo, Gritzbach expôs como o PCC lavava dinheiro no mercado imobiliário, criptomoedas e no futebol. Ele também era réu, acusado de ordenar a morte de dois membros da facção.

A delação de Gritzbach, homologada em março, foi resultado de anos de negociações com o Gaeco. Ele explicou que o PCC usava a compra de imóveis de alto padrão na zona leste de São Paulo, especialmente no Tatuapé, para lavar dinheiro.

Imóveis eram comprados em nome de laranjas, com pagamento em espécie. Assim, a facção ocultava o verdadeiro dono e tinha presença na região. Gritzbach entregou provas de que executivos da construtora sabiam do esquema e facilitavam as transações.

Além de imóveis, o PCC lavava dinheiro em criptomoedas. Gritzbach revelou que a facção movimentava grandes somas em bitcoins, transferindo valores sem alertar o sistema financeiro. Também disse há policiais e delegados envolvidos nos negócios do PCC, e que iria apresentar informações sobre a corrupção na corporação.

Outra parte da delação envolveu o futebol. Gritzbach entregou nomes de agentes que usavam contratos de jogadores para lavar dinheiro da facção. Entre eles, Danilo Lima de Oliveira, o Tripa, da Lion Soccer Sports, e Rafael Maeda Pires, o Japa do PCC.

Esses empresários, segundo o delator, agenciavam jogadores de clubes renomados. A lista incluía Éder Militão, do Real Madrid, Emerson Royal, do Milan, e Gustavo Scarpa, do Atlético-MG. Empresas de agenciamento de jogadores faziam contratos e transferências que disfarçavam a origem ilícita do dinheiro.

Gritzbach era réu por ser o mandante das mortes de Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta, e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue. Ambos eram líderes do PCC no tráfico de drogas. Cara Preta foi morto em uma emboscada no Tatuapé em 2021. Gritzbach negava ter ordenado o crime.

Responsável pelo envio de drogas para a Europa, Cara Preta era acionista da empresa de ônibus UPBUs, investigada por lavar o dinheiro do tráfico. Ele chegou a ser preso, mas o Superior Tribunal de Justiça concedeu habeas corpus para que respondesse em liberdade em 2023.

Antes de ser morto no aeroporto, Vinicius Gritzbach sofreu um atentado em casa durante o Natal de 2023. Ele estava na sacada de seu apartamento no Jardim Anália Franco, bairro nobre da zona leste de São Paulo, quando foi alvo de um tiro, que acabou não atingindo ninguém. 

A morte de Gritzbach é investigada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Investigações preliminares apontam que ele foi morto com tiros de fuzil. Outras três pessoas ficaram feridas. Imagens das câmeras de segurança do aeroporto registraram o momento em que Vinicius foi executado.

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