Jornal de vencedor do Nobel apaga conteúdos e segue trabalhando

O jornal Novaya Gazeta, controlado pelo vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2021 Dmitri Muratov, decidiu continuar a trabalhar, apesar da aprovação de uma lei na Rússia que proíbe que os veículos jornalísticos locais usem palavras como “guerra”ou “invasão” para se referirem às ações do exército de Vladimir Putin na Ucrânia.

Em nota divulgada no site do jornal, os editores da Novaya Gazeta afirmam que vão obedecer às novas determinações do governo e irão apagar os conteúdos que são considerados como “falsificação” da realidade. 

A decisão foi tomada depois de consulta aos leitores do site. Segundo a publicação, 6.427 pessoas participaram da enquete. Desse total, 93,9% votaram pela continuidade do trabalho sob regime de censura militar, cumprindo as exigências das autoridades. Outros 6,1% sugeriram que a redação suspendesse as atividades até o fim da “operação especial”, termo que o governo russo quer que seja usado para noticiar a guerra.

A nota também diz que a publicação recebeu seis ofícios enviados pelo Ministério Público e pela Roskomnadzor, autarquia que regula o setor de mídia na Rússia. O órgão também determinou o bloqueio do acesso aos sites da BBC, Voz da América e Rádio Free Europe/Liberty Radio.

A nova lei atinge não só a Novaya Gazeta, mas também qualquer veículo independente que busque apresentar informações sobre a guerra que sejam contrárias ao discurso oficial do Kremlin. Quem descumprir está sujeito à pena de prisão por até 15 anos.

Em nota, a BBC afirmou que continuará a oferecer os serviços ao povo russo, embora tenha tomado medidas para proteger sua equipe em Moscou. A rede britânica disse que a audiência da BBC News no país mais que triplicou na última semana, depois que a invasão começou.

Prêmio Nobel da Paz

O editor-chefe da Novaya Gazeta, Dmitri Muratov, recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em 2021, pela luta para garantir o acesso à informação ao povo russo. Ele dividiu a condecoração com a jornalista filipino-americana Maria Ressa, que fundou um site para divulgar reportagens investigativas sobre o país.

A Novaya Gazeta foi fundada em 1993. Desde então, pelo menos seis repórteres do jornal foram assassinados. Alguns deles sob condições suspeitas depois de divulgarem casos de corrupção no governo russo.

Facebook e Wikipedia

A nova lei russa também atingiu as redes sociais. O acesso ao Facebook foi parcialmente interrompido na Rússia. Usuários reclamam da dificuldade de acesso à plataforma. O Roskomnadzor afirma que a rede de Mark Zuckerberg discrimina os meios de comunicação russos.

Recentemente, o Facebook afirmou que derrubou vários perfis que disseminavam desinformação sobre a guerra na Rússia. Segundo a empresa, as páginas eram controladas pelos governos da Rússia e de Belarus, parceiros na ofensiva militar contra a Ucrânia.

A Wikipedia foi outro alvo de tentativas de censura da Rússia. O governo ameaçou bloquear o acesso à plataforma, caso o artigo sobre a invasão na Ucrânia não fosse apagado. O site se recusou a ceder às ameaças e manteve o conteúdo no ar. Atualmente, a página abriga conteúdos sobre a guerra em ao menos 99 idiomas.