Análise: Anvisa cede à pressão, mas guerra das vacinas é inevitável
A contragosto e de modo atabalhoado, a Anvisa cedeu à pressão para (aparentemente) facilitar o uso emergencial da Sputnik. Dispensou estudos de fase três em andamento no Brasil, o que seria aprovado pelo Congresso em dias, graças a uma articulação do centrão e do Planalto.
A cúpula da agência tentou evitar um problema inevitável. Os diretores e técnicos da Anvisa sabem que liberar a exigência de estudos em fase três no Brasil não significa que a União Química conseguirá a autorização emergencial para a Sputnik.
No caso da vacina russa, a nova regra concede apenas a aparência de maior facilidade. Até ajuda a União Química, mas bem pouco. O laboratório não conseguiu apresentar dados mínimos para a apreciação da Anvisa - nem dispõe deles. Ao menos por ora.
A agência sanitária russa não avaliou o imunizante. A vacina foi aprovada pelo governo russo. Se seguiu padrões técnicos e científicos das principais agências sanitárias, ninguém sabe. Técnicos da OMS e da Anvisa aguardam há meses documentos mínimos e críticos para poder analisar o imunizante.
Até agora, seja em Brasília, seja na Europa, os cientistas e especialistas receberam documentos de uma página e apresentações em Powerpoint. Técnicos da Anvisa chegaram a rir nervosamente quando abriram o primeiro pedido de uso emergencial apresentado pela União Química.
Quando a União Química entrar com o novo pedido junto à Anvisa, os técnicos terão até trinta dias para analisar o pleito. Nada indica que haverá condições de aprovar o uso emergencial sem diminuir o rigor prometido pela agência. Não é a revista The Lancet que aprova vacinas - por mais alvissareira que seja a publicação de um artigo revisado por pares sobre os estudos de fase três do imunizante.
Desenha-se, portanto, uma guerra entre a coalizão da Sputnik - um grupo que inclui do presidente da República a deputados do centrão, passando por lobistas, governadores, empresários e advogados - e os técnicos da Anvisa.
Eles serão pressionados a relaxar substancialmente a análise da segurança, da eficácia e da qualidade do imunizante. E conferir apenas um carimbo formal a uma substância que poderá chegar aos braços de milhões de brasileiros.
A decisão final caberá aos cinco diretores da Anvisa. Eles votarão, provavelmente, sob extraordinária pressão política, econômica e popular.
O dossiê da Abin
PF indicia corregedor por produzir informações contra antecessora e tentar desviar investigação
Leia Mais2ª Turma do Supremo Tribunal Federal mantém decisão contra doleiro investigado pela Lava Jato
Leia MaisConversa a sós na Abin
Encontro de diretor da Abin com Ramagem tratou sobre operação secreta em favelas do Rio, diz PF
Leia MaisComissão para investigar fraude de 6,3 bilhões de reais no INSS começa no segundo semestre
Leia MaisAneel deixa empresa adiar contabilização de 1,4 bilhão, que daria maior desconto na tarifa
Leia MaisDeputado exige vaga que estava destinada ao PT após acordo firmado com Hugo Motta
Leia MaisExtração no rio Amazonas será feita em 19 pontos, por Petrobras, ExxonMobil, Chevron e CNPC
Leia MaisOAB abre caminho para colocar o ex-juiz da Lava Jato Marcelo Bretas na lista dos inaptos à advocacia
Leia MaisDona do WhatsApp é punida por Justiça mineira devido a vazamento de dados de usuários
Leia MaisMinistro Dias Toffoli dá chance ao governo de negociar ressarcimento aos aposentados roubados
Leia MaisMoraes autoriza acareação entre Mauro Cid e Braga Netto sobre episódio de entrega de dinheiro
Leia MaisPonto final na 'Abin paralela'
PF conclui inquérito sobre uso da agência em prol do governo Bolsonaro e entrega ao Supremo
Leia MaisDisputa pela presidência do partido vai além de posições ideológicas; principal ponto é a tesouraria
Leia MaisCorretora obtém liminar para barrar publicação de conteúdo contra um de seus produtos
Leia MaisRede de varejo consegue abater 500 milhões de reais em dívida de 865 milhões de reais com União
Leia Mais