O erro de Cármen
Ao decidir enviar técnicos do TSE para acompanhar as eleições na Venezuela, a ministra Cármen Lúcia cometeu um erro estratégico cujo custo político tende a aumentar nos próximos dias.
Influenciada (ou pressionada) pelo governo Lula, a presidente do TSE desautorizou, na semana passada, seu antecessor, Alexandre de Moraes. Ele determinara que o TSE ficaria longe da encrenca venezuelana, para alívio de ministros e servidores.
A decisão de Moraes era lúcida. A Justiça Eleitoral brasileira só tem a perder ao participar de eleições que não serão livres nem justas. Acreditar no contrário é ignorar a última década da política venezuelana.
Se tudo indica que as eleições na Venezuela serão (mais uma) fraude política, o que podem fazer os técnicos do TSE, além de emprestar, ainda que involuntariamente, legimitidade a um processo ilegítimo? Os representantes da corte, aliás, não terão condições de averiguar detidamente os locais e as formas de votação.
Quando o ditador Nicolás Maduro fala em "banho de sangue" e "guerra civil"; quando seu governo age abertamente (mais uma vez) para sabotar a oposição e ameaçar os eleitores; quando o regime retira o convite para que observadores da União Europeia acompanhem o pleito; quando esse mesmo tirano aprofunda as relações políticas, ideológicas e comerciais com o governo de Lula - quando tudo isso acontece, qual interpretação pode-se ter da decisão da Justiça Eleitoral brasileira de meter-se nessa bronca?
Se a participação dos servidores do TSE nas eleições venezulenas é inócua do ponto de vista técnico, é desastrosa do ponto de vista institucional.
Prevalecerá a percepção pública, seja aqui, seja no exterior, de que a Justiça Eleitoral do Brasil endossou eleições conspurcadas politicamente antes mesmo do resultado.
Será impossível dissociar a atuação do TSE da atuação do governo Lula. Diplomaticamente, é o estado brasileiro que se envolveu no pleito venezuelano. Para observadores, os técnicos do TSE provavelmente não passarão de subordinados de Celso Amorim.
Essa simbiose entre o TSE e o governo Lula, e logo numa eleição na Venezuela, é um coquetel tóxico para a credibilidade da Justiça Eleitoral. Queira ou não, a corte parece agir de acordo com a agenda de Lula e das franjas mais radicais do PT.
Diante dos incessantes e, quanto à segurança e à confiabilidade das urnas eletrônicas, infundados ataques da oposição bolsonarista, a chancela simbólica da Justiça Eleitoral brasileira ao pleito venezuelano é um convite a uma crise desnecessária e altamente danosa à reputação do TSE.
O TSE precisa zelar pela institucionalidade, pela imparcialidade e pelo tratamento justo a todos os atores políticos, sem casuísmos. Para que a população não caia em lorotas sobre a confiabilidade das urnas, é necessário que o tribunal afaste-de se seu passado recente, no qual tomou decisões de coloração política, e aja com parcimônia e sobriedade na disputa doméstica que se aproxima.
Em termos práticos, parte expressiva dos eleitores não distinguem entre a organização administrativa do pleito e julgamentos, frequentemente questionáveis, sobre políticos - sempre os da oposição. Ainda mais desde que o TSE passou a se arrogar, numa proporção inédita, o poder de decidir sobre o que é ou não verdade, e o que é ou não válido, no campo do debate político.
Antes de acertar, é preciso deixar de errar. Não embarcar para Caracas é um primeiro passo.
Alex Manente sugere rejeitar recurso que pode evitar cassação de deputado do Psol
Leia MaisFlávio Dino pede que governo e Congresso prestem informações sobre sistema de controle de emendas
Leia MaisPartido disputa com Garotinho vaga de vice do prefeito, candidato ao governo do Rio em 2026
Leia MaisCondenado por corrupção em caso da Lava Jato, ex-presidente é o detido pela Polícia Federal
Leia MaisMesa Diretora da Câmara cassa o mandato de Chiquinho Brazão, acusado de mandar matar Marielle Franco
Leia MaisAlexandre de Moraes determina prisão imediata de ex-presidente, após rejeitar último recurso
Leia MaisZanin prorroga afastamento de desembargadores do TJMS investigados por venda de decisões
Leia MaisCom delação de operador de Zé Dirceu, Renato Duque é condenado por receber propina na Petrobras
Leia MaisEmpresa diz que houve acesso não autorizado a uma base de dados, mas nenhuma operação foi feita
Leia MaisBoletim médico diz que estado de saúde regrediu e Jair Bolsonaro vai passar por mais exames
Leia MaisMinistra tenta emplacar aliada como substituta de Cida Gonçalves no Ministério das Mulheres
Leia MaisTCU não quer investigar envolvidos na compra de respiradores pelo Consórcio do Nordeste na pandemia
Leia MaisLula aceita indicação do presidente do Senado para o comando do Ministério das Comunicações
Leia MaisBanqueiros são alvos da Justiça, suspeitos de desaparecer com recursos de clientes em paraíso fiscal
Leia MaisPF afasta presidente do INSS por suspeita fraude em descontos de benefícios previdenciários
Leia Mais