As criptos e a Rússia
A Agência Nacional de Crimes (NCA, na sigla em inglês), do Reino Unido, anunciou nesta quarta-feira (4) ter derrubado um esquema de lavagem de dinheiro de oligarcas russos, que supostamente financiava crimes como tráfico de drogas, ataques digitais e ações de espionagem.
A fraude foi descoberta ao longo dos últimos dois anos e foi divulgada depois que o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos divulgou sanções contra parte dos investigados. Pelo menos 84 investigados já foram presos e parte deles foi condenada pelas autoridades britânicas.
Segundo a NCA, oligarcas russos usavam duas empresas, a TGR e a Smart, para movimentar dinheiro em países do Ocidente, em especial o Reino Unido. Eles faziam aplicações nas duas empresas usando criptomoedas, em especial o Tether, e recolhiam o valor em dinheiro vivo para aplicar nas mais diversas atividades, desde atos ilícitos até a compra de imóveis e empresas.
Esses oligarcas fazem parte de uma extensa lista de bilionários russos que se tornaram alvos de sanções econômicas em países do Ocidente, principalmente depois do início da guerra da Ucrânia. Para burlar as restrições, eles faziam as operações em criptomoedas, cujo rastreamento é mais complexo.
As investigações mostraram que o esquema transnacional envolvia quadrilhas de traficantes de drogas que atuavam não só na Europa, mas na América do Sul, onde os entorpecentes eram fabricados. A venda das drogas nas ruas servia como forma de trocar o dinheiro das ações criminosas pagas com criptomoedas em moeda corrente.
A escolha do Tether para essas transações se deu porque a moeda é considerada uma stablecoin, ou seja, tem o valor atrelado ao dólar dos Estados Unidos. Com isso, os participantes da fraude conseguiam ter certeza dos valores envolvidos, o que ficaria quase impossível de controlar com outras criptomoedas, como o bitcoin, cuja cotação é bastante volátil.
Ao longo dos últimos anos, o esquema foi desvendado por meio de diversas apreensões de dinheiro vivo. As trocas eram feitas por meio de mensageiros, que levavam quantias volumosas de um lado ao outro da Europa. Em apenas uma das ações, as autoridades britânicas confiscaram cerca de 20 milhões de libras esterlinas, o equivalente a mais de 150 milhões de reais.
Nos Estados Unidos, as autoridades locais identificaram que o dinheiro lavado era usado para investimento em negócios lícitos dentro do país. Segundo o Tesouro, mais de 50% de uma empresa no Wyoming pertencia a um russo que era alvo de sanções e não poderia manter empresas no país.
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