Exclusivo

Após segurar venda da Eletrobras, Vital emplaca aliado no Judiciário

Diego Escosteguy
Publicada em 15/02/2022 às 10:45
Vital do Rêgo Foto: TCU

Em sessão extraordinária do TCU, Vital do Rêgo deve apresentar daqui a pouco seu voto sobre a privatização da Eletrobras. Ele havia pedido vista em 15 de dezembro, quando os ministros caminhavam para aprovar, com ajustes, o modelo de venda preparado pelo governo e autorizado pelo Congresso.

Com críticas ao modelo de privatização, o pedido de vista de Vital surpreendeu a equipe de Paulo Guedes e constrangeu a maioria de seus colegas de tribunal. O assunto vinha sendo discutido abertamente há bastante tempo. O pedido de vista foi efetivado pelo ministro Bruno Dantas, seu aliado na corte. Ele ampliou, após a sessão e a sem a aprovação dos pares, a vista de cinco para 60 dias. A decisão de Dantas colocava em risco a privatização da Eletrobras. O atraso, se porventura prosseguisse por muito tempo, significaria jogar a venda para 2023 - ou talvez para nunca.

Formalmente, Vital alegou haver um erro "grosseiro" nos cálculos do valor a ser pago pela outorga da empresa - o que, ao contrário do que foi divulgado, não reflete a posição da área técnica do tribunal, de acordo com os autos. Mas o movimento do ministro tinha um componente político, segundo fontes que participaram das tratativas: ele queria obter benesses do Planalto.

Um assessor do Planalto esteve no gabinete de Vital para saber o que seria necessário para destravar o processo. Ouviu dele o pedido para que, entre coisas, Bolsonaro nomeasse um aliado do ministro a uma vaga no Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba. Exigiu a nomeação do advogado Roberto D’Horn Moreira Monteiro da Franca Sobrinho para a vaga.

O governo cumpriu sua parte. Bolsonaro escolheu D'Horn, dentre uma lista tríplice, em 27 de janeiro deste ano. O cargo que o advogado ocuparia no TRE era altamente estratégico: D’Horn foi escolhido no último dia 9 (dois dias após sua posse como juiz eleitoral) relator da operação Calvário na Justiça Eleitoral da Paraíba.

O caso foi parar no tribunal por decisão de Ricardo Vital, sobrinho-filho de Vital do Rêgo e desembargador do TJPB, que seguiu entendimento do STF – de que casos de corrupção ligados a eleições devem ser julgados pela Justiça Eleitoral.

A investigação apurou desvios de R$ 1,1 bilhão da Cruz Vermelha no estado de 2011 a 2018. O dinheiro teria sido usado, entre outros fins, para pagar campanhas políticas do grupo político do então governador Ricardo Coutinho – que à época estava no PSB, tendo voltado ao PT no ano passado, após ter sido filiado à sigla de 1982 a 2003. Vital e sua família aliaram-se a Lula e ao PT no estado, o que inclui Coutinho.

A decisão foi tomada em 25 de janeiro, poucos dias antes da nomeação de D'Horn para o TRE-PB por Bolsonaro. O juiz eleitoral é sobrinho do ex-deputado Neto Franca (antigo aliado da família Vital do Rêgo). Foi pelas mãos do clã, por exemplo, que o ex-parlamentar chegou à diretoria do Sebrae na Paraíba.

Tamanha é a influência dos parentes do ministro do TCU (e dele próprio) que a escolha de D’Horn ao TRE-PB foi considerada “estranha” pela advocacia do estado, segundo um advogado com forte presença na política da Ordem da Paraíba. Ele ficou na terceira colocação na lista tríplice que compartilhou com Wilson Ribeiro de Moraes Neto e Márcio Maranhão Brasilino da Silva.

Neto tem boa relação na OAB-PB, sendo o ouvidor da seccional desde 2017. Já Brasilino disputava a recondução – que costuma ser concedida aos postulantes, como uma regra não dita da liturgia entre Executivo e Judiciário – após ter chegado à corte eleitoral em 2019, nomeado por Bolsonaro e com apoio do grupo político de Cássio Cunha Lima, de quem foi assessor.

Agora, com a nomeação do advogado, o governo, embora tenha recebido mais pedidos do grupo de Vital e Bruno Dantas, que tem o apoio de Renan Calheiros, espera a retomada do julgamento para tentar liberar, no voto, a venda da Eletrobras. O grupo pedira também que o Planalto se empenhasse na aprovação de Alexandre Barreto à Superintendência-Geral do Cade - a nomeação dele está travada no Senado. O governo não topou.

Vital e D'Horn não responderam aos questionamentos do Bastidor.

*Com reportagem de Brenno Grillo.

Procuradoria defende que STF rejeite recurso do ex-presidente contra inelegibilidade

Leia Mais

Dinheiro resolve

25/04/2024 às 08:44

Governo se comprometeu a pagar 11 bilhões em emendas até abril. Não foi o que ocorreu

Leia Mais

Eleição no Superior Tribunal de Justiça serviu para criticar trabalho virtual de ministros

Leia Mais

Ainda sob risco

24/04/2024 às 07:00

A sobrevida no comando da Petrobras não significa que a pressão sobre Prates tenha diminuído

Leia Mais

PGR pediu à PF que investigue mais a falsificação da carteira de vacinação de Bolsonaro

Leia Mais

Duas vereadoras do PL são apontados como favoritas a formar a chapa com Ricardo Nunes em São Paulo

Leia Mais

O drible da PGR

23/04/2024 às 12:42

Denúncia contra Zambelli por divulgação de falsa prisão de Moraes coloca Judiciário como vítima

Leia Mais

Fim da aclamação

23/04/2024 às 12:00

Eleição de Salomão a vice-presidente provoca mudança no sistema de eleições do STJ

Leia Mais

Chances de indicação de um bolsonarista raiz para a vaga de vice caíram consideravelmente

Leia Mais

TST colocou o presidente Lula em uma intrincada escolha para o novo ministro

Leia Mais

Manifestação em defesa de Jair Bolsonaro é - e será - comício do PL para eleição municipal

Leia Mais

Defesas de empreiteiras contam com prorrogação de prazo para renegociar acordos de leniência

Leia Mais

Bola com Dino

21/04/2024 às 13:44

Desembargadores afastados da funções pelo CNJ pedem que STF corrija erros de Luís Felipe Salomão.

Leia Mais

Ligação suspeita

20/04/2024 às 06:00

Advogada que atuou para Luiz Estevão ajudou a julgar servidores que o contrariaram na cadeia

Leia Mais

Flávio Dino desengaveta reclamação que leva STF de volta à discussão das emendas de relator.

Leia Mais