O risco da Stripe

Redação
Publicada em 14/09/2024 às 14:30
Os irmãos Patrick e John Collison, fundadores da Stripe, veem a empresa passar por dificuldades para manter parcerias com bancos nos EUA Foto: Divulgação

Dois dos maiores bancos dos Estados Unidos, o Goldman Sachs e o Wells Fargo, decidiram interromper a parceria que tinham com a plataforma de pagamentos online Stripe. A fintech é umas das principais do setor e mira um IPO em breve.

Os dois bancos passaram a não tolerar mais algumas das operações consideradas demasiadamente arriscadas por eles. No caso do Goldman, houve antes pressão do Fed, o banco Central americano, para reduzir os riscos em negócios envolvendo fintechs como a Stripe.

Segundo uma reportagem do site The Information, a principal parte da parceria com o Goldman Sachs estava ainda em processo de análise pelo banco, que foi procurado pela Stripe. Entretanto, o acordo não chegou a se concretizar. A Stripe não conseguiu demonstrar um controle de segurança adequado, o que poderia permitir o uso das ferramentas de pagamento para lavagem de dinheiro e financiamento de atividades criminosas.

A Stripe foi fundada em 2010 pelos irmãos Patrick e John Collison. O principal foco da empresa é uma ferramenta que permite a realização de cobranças em meios digitais. É como se fosse uma maquininha de cartões, mas para ser usada apenas em sites. A companhia também atua em diversas outras áreas relacionadas à gestão financeira de negócios digitais, mas o principal produto é a ferramenta de pagamentos.

Para que o negócio tenha sucesso, a Stripe precisa arrumar parceiros também no setor financeiro, sobretudo grandes bancos, para poder realizar as transferências de um lado a outro, além de dar ao mercado a garantia de que a ferramenta é segura, visto que instituições renomadas também usam os mesmos aplicativos.

É aí que entra a tentativa de parceria com o Goldman Sachs e o Wells Fargo. Os dois bancos se dispuseram a fornecer serviços de infraestrutura financeira à Stripe - a empresa de pagamentos é hoje uma das principais do mundo no setor, avaliada em 70 bilhões de dólares. Em 2023, a empresa movimentou cerca de 1 trilhão de dólares em pagamentos.

Um dos problemas apontados pelos bancos, segundo o The Information, é que as leis regulatórias dos Estados Unidos obrigam que as instituições financeiras mantenham registros claros de entradas e saídas de dinheiro. Ou seja, é preciso saber quem mexeu e para onde foi cada transferência, de forma detalhada. Para os dois gigantes, a Stripe ainda não tem condições de fazer essa fiscalização. O risco regulatório, via Fed, fica com os bancos - que não estão dispostos a arcar com ele.

O problema na Stripe também se estende a outras plataformas semelhantes. Por isso, os dois decidiram criar ferramentas próprias, em vez de usar os serviços de terceiros. Assim como eles, instituições menores também tomaram o mesmo caminho e deixaram os serviços da empresa de lado.

Segundo o site em português da Stripe, alguns dos parceiros globais são a Amazon, o Google, a Shopify e o WhatsApp. Mesmo com essas empresas ao lado da Stripe, a dificuldade com os bancos dos Estados Unidos já acendeu um alerta vermelho dentro da companhia.

A Stripe afirmou ao The Information que está trabalhando continuamente para melhorar a segurança da plataforma. Uma das medidas adotadas é a política de uso, que impede e bloqueia pagamentos feitos por pessoas que possam realizar atividades ilícitas ou moralmente duvidosas, como a venda de conteúdo adulto, por exemplo.

Contudo, essas medidas ainda são mais paliativas do que eficazes. A Stripe diz ter criado uma inteligência artificial para tentar banir automaticamente usuários que infrinjam as normas da empresa, mas o trabalho mais efetivo ainda é feito por uma equipe humana.

Dos cerca de 7 mil funcionários da empresa, 700 são dedicados a essa função, mas o número é considerado baixo, diante da demanda cada vez maior de serviços semelhantes ao da Stripe. Há ainda outros mil revisores externos ajudando na tarefa, mas a própria Stripe admite que é muito difícil controlar todas as transações feitas pela plataforma.

Apesar das dificuldades enfrentadas com os bancos dos Estados Unidos, a Stripe ainda mantém vínculos com outras instituições ao redor do mundo. Uma delas é o Deutsche Bank, que recentemente fechou contrato com a empresa, em um valor não revelado, e assumiu em março deste ano o sistema de pagamentos da Stripe. O Deutsche, contudo, aceita apenas uma parte das operações da Stripe.

A fintech ainda busca soluções, mas o alerta do Fed e dos grandes bancos prenunciam que o IPO tende a ser mais difícil do que se imaginava. As dificuldades da Stripe também apontam para problemas sistêmicos no mercado de fintechs.

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