Um bolsonarismo mais tóxico
O relato do senador Marcos do Val (Podemos) à revista Veja de que recebeu uma proposta do ex-presidente Jair Bolsonaro e do ex-deputado Daniel Silveira para participar de um golpe é estarrecedor, mas difícil de comprovar para efeitos judiciais. Na política, no entanto, seu efeito já está estabelecido. O bolsonarismo ficou ainda mais tóxico. Seus parlamentares sofrerão com isolamento neste início de legislatura.
Marcos do Val está longe de ser um senador de destaque. É mais conhecido por episódios controversos e pela fidelidade a Jair Bolsonaro. Diz que foi levado ao Palácio da Alvorada de forma clandestina e ouviu de Bolsonaro e Silveira, a proposta para gravar ilegalmente o ministro Alexandre de Moraes. O grupo usaria alguma fala de Moraes para desmoralizá-lo publicamente, cancelar a posse de Lula e manter Bolsonaro na presidência. Um golpe de estado.
Nesta quinta, Marcos do Val tentou desdizer o que disse ontem em uma live e à Veja. Depois tentou a estratégia de causar danos ao ministro Alexandre de Moraes. Não há mais volta. Ainda que sem comprovação, seu relato reforça o que já se sabe: o bolsonarismo é inimigo da democracia e do estado democrático de direito; só acredita numa versão da democracia na qual ele, bolsonarismo, é dominante e impõe seus parâmetros.
Isso é péssimo numa democracia, ainda mais quando o bolsonarismo não está no poder, como agora. Parlamentares e militantes simpáticos a Bolsonaro ficarão isolados. Estão tão tóxicos quanto Bolsonaro, com a desvantagem que precisam ir ao parlamento e legislar, em vez de ficar de bermuda e chinelos em Orlando falando o que bem quiserem. A nova revelação golpista tende a afastar deputados e senadores de centro dos bolsonaristas, o que reduz sua capacidade de fazer acordos, tentar colocar seus temas em pauta e vencer votações. No Legislativo é preciso compor e negociar; é difícil fazer isso quando se faz parte de um grupo golpista.
O relato de Marcos do Val é forte não apenas pelos detalhes, mas porque se soma a outros episódios da mesma tendência. Além das inúmeras falas do próprio Bolsonaro de questionar a lisura das eleições com base em mentiras, a barbárie de 8 de janeiro em Brasília, a minuta do golpe descoberta pela Polícia Federal na casa do ex-ministro Anderson Torres e a revelação de Valdemar Costa Neto de que havia várias minutas em circulação mostram as movimentações golpistas.
Do ponto de vista judicial, será difícil conseguir provar que a reunião entre Marcos do Val, Bolsonaro e Daniel Silveira existiu ou que tratou-se do assunto. A polícia pode comprovar que os três estavam no mesmo local pelo georreferenciamento de seus telefones celulares, mas o conteúdo da conversa dependeria de uma gravação.
Contudo, a história reforça a convicção de que Bolsonaro não aceitava o resultado da eleição e buscou formas ilegais para permanecer no poder. Pode ser o suficiente para que, ainda que a história de Marcos do Val não conste como prova em qualquer processo, o Tribunal Superior Eleitoral decida pela inelegibilidade de Bolsonaro em um dos 16 processos que correm por lá.
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