A Esplanada dos filhos do mensalão

Samuel Nunes
Publicada em 29/12/2022 às 13:59
Jader Filho preside o MDB do Pará e ajudou a legenda a eleger o maior número de deputados do partido em todo o país Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

Luiz Inácio Lula da Silva terminou de apresentar nesta quinta-feira (29) a lista de futuros ministros e chefes de secretarias do primeiro escalão do governo. Entre os nomes, estão Jader Filho e Renan Filho. Os nomes de ambos remetem aos pais, os senadores Jader Barbalho e Renan Calheiros, ambos velhos chefes do MDB e amigos do novo presidente.

Como sabido, os pais dos futuros ministros figuraram em escândalos de corrupção nos governos petistas. Apesar disso, os eleitores do Pará e de Alagoas mantiveram o poder das duas famílias, não só mantendo os pais no Congresso Nacional, como dando aos filhos a garantia de continuidade no poder. Renan filho foi governador de Alagoas por dois mandatos, Jader preside o MDB no Pará e viu o irmão, Helder, ser reeleito no primeiro turno deste ano.

A lista de novos ministros também inclui apoiadores neófitos na composição da Esplanada dos Ministérios. Entre eles, estão o senador Carlos Fávaro, do PSD de Mato Grosso, e Juscelino Filho, do União Brasil.

Nas eleições passadas, os partidos dos dois novos ministros não endossaram a candidatura de Lula. O PSD declarou-se neutro, enquanto o União Brasil lançou a senadora Soraya Thronicke como candidata a presidente, além de sustentar a candidatura de Sergio Moro, algoz do futuro chefe do Executivo, nas ações da Lava Jato, em Curitiba.

A situação de Fávaro e Juscelino, no entanto, difere de Simone Tebet, que comandará o Planejamento. Embora a senadora tenha sido rival de Lula no primeiro turno, logo embarcou na candidatura petista e foi uma das principais apoiadoras do novo governo a partir do segundo turno das eleições.

Veja abaixo a lista dos 16 novos ministros anunciados por Lula e dos outros 21 que já tinham sido anunciados.

  • Gabinete de Segurança Institucional: Gonçalves Dias – O general do Exército atuou na segurança pessoal de Lula nos dois primeiros mandatos do petista como presidente. Também teve cargo semelhante durante o governo de Dilma Rousseff.
  • Secretaria de Comunicação: Paulo Pimenta – O deputado federal é jornalista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Também é formado como técnico agrícola. Era figura cativa na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, no período em que Lula ficou preso por causa das condenações na Lava Jato.
  • Agricultura: Carlos Fávaro – O senador eleito pelo PSD de Mato Grosso foi presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho matogrossense. De 2015 a 2018, foi vice-governador do estado, na gestão de Pedro Taques e acumulou a função de secretário da Agricultura. Em 2018, foi derrotado na eleição para o Senado, mas assumiu em 2020, depois de uma nova disputa, quando Selma Arruda teve o registro cassado pela Justiça Eleitoral. É produtor agrícola e tem proximidade com o ex-ministro Blairo Maggi, considerado o maior produtor de soja do país.
  • Integração e Desenvolvimento Regional: Waldez Góes – atual governador do Amapá, está no fim do quarto mandato no estado. Foi condenado em 2009, por peculato, durante a primeira gestão no governo amapaense e preso em 2010, na Operação Mãos Limpas, que, além de peculato, também apurou os crimes de fraude em licitação e associação criminosa. As acusações contra o político foram anuladas pelo Superior Tribunal de Justiça e pelo Supremo Tribunal Federal, nos anos seguintes. A nomeação atende a pedido de Davi Alcolumbre.
  • Pesca: André de Paula – Deputado federal pelo PSD de Pernambuco já esteve contra interesses petistas em várias oportunidades. A mais notória delas foi quando votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Também votou pelas aprovações da lei que instituiu o teto de gastos e da Reforma Trabalhista, no governo de Michel Temer. É advogado de formação, mas atua na política desde 1982.
  • Previdência: Carlos Lupi – O presidente nacional do PDT voltará a assumir um ministério 11 anos depois de deixar a Esplanada. Na primeira passagem de Lula pelo Planalto, Lupi foi ministro do Trabalho e Emprego, pasta que reunia algumas das principais políticas públicas da gestão petista. Até hoje, só foi eleito uma vez, como deputado federal, de 1991 a 1995. Apesar disso, com a morte de Leonel Brizola, assumiu posição de destaque no partido. Nas duas últimas eleições federais, colocou o PDT como adversário dos petistas, com Ciro Gomes comandando as chapas que acabaram derrotadas. A ascensão de Lula ao Planalto, no entanto, fez Lupi se reaproximar do ex-chefe, garantindo-lhe uma posição no futuro governo.
  • Cidades: Jader Filho – Presidente do MDB do Pará, é filho do senador Jader Barbalho e do governador do estado, Helder Barbalho. A nomeação dele entrou na cota pessoal de Lula e não faz parte de busca de apoio junto ao MDB. Não que ele precisasse disso, já que, sob o comando de Jader Filho, a legenda conseguiu eleger 9 dos 42 deputados federais da legenda neste ano. Foi a maior vitória do partido na disputa à Câmara, entre todos os estados.
  • Comunicações: Juscelino Filho – Assim como André de Paula, o futuro ministro criou uma carreira política em trincheiras opostas ao PT. Filiado ao União Brasil do Maranhão, também votou pelo impeachment de Dilma Rousseff e apoiou adversários da ex-presidente, como Aécio Neves e José Serra. Formado em medicina, o futuro ministro não aparenta ter qualquer intimidade com a pasta que irá comandar. O Ministério das Comunicações é responsável, por exemplo, pela regulação das companhias telefônicas, outorgas de rádio e TV e pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC). 
  • Povos Indígenas: Sônia Guajajara – Líder indígena é a única integrante do PSOL que conseguiu um posto na Esplanada. Vai comandar uma pasta dedicada aos povos originários, que parte de um desmembramento do atual Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Apesar de ter nascido e iniciado a trajetória profissional no Maranhão, foi eleita neste ano como deputada federal por São Paulo. Em 2018, ao lado de Guilherme Boulos, concorreu à vice-presidente.
  • Transportes: Renan Filho – Foi governador de Alagoas por dois mandatos consecutivos. Renunciou no início deste ano para concorrer ao Senado, sendo eleito com 56,92% dos votos. Durante a gestão, foi um dos alvos da delação de executivos da Odebrecht, na Lava Jato. Em um dos inquéritos, é suspeito de ter ajudado, junto com o pai, a favorecer a petroquímica Braskem, em troca de financiamento para a campanha ao governo, em 2014. No outro caso, é suspeito de ter recebido propina para a realização de obras no canal sertão alagoano, realizadas pela empreiteira.
  • Minas e Energia: Alexandre Silveira – Senador em fim de mandato, perdeu a disputa à reeleição em Minas Gerais. Aliado de Rodrigo Pacheco, assumiu a cadeira no Senado após Antonio Anastasia assumir como ministro do TCU. Foi deputado federal, diretor-geral do DNIT, secretário de Gestão Metropolitana e de Saúde de MG, além de delegado no estado.
  • Desenvolvimento Agrário: Paulo Teixeira – Deputado federal reeleito para o sexto mandato consecutivo, foi vereador em São Paulo e deputado estadual. É advogado.
  • Esportes: Ana Moser – Foi jogadora profissional de vôlei por 15 anos e integrou a seleção olímpica responsável pela primeira medalha brasileira na modalidade, um bronze, em Atalanta (1996). Criou o Instituto Esporte e Educação.
  • Meio Ambiente: Marina Silva – Ex-petista, a ex-senadora por dois mandatos foi ministra do Meio Ambiente do governo Lula (2006-2008). Enfrentou o PT na disputa presidencial em 2010 (PV), 2014 (PSB), 2018 (Rede). Junto com Chico Mendes, ajudou a criar uma filial da CUT no Acre, onde nasceu e exerceu o mandato deputada estadual, após ser vereadora em Rio Branco. Pela Rede, elegeu-se deputada federal por São Paulo no pleito deste ano.
  • Planejamento: Simone Tebet – A senadora conseguiu o terceiro lugar na eleição presidencial deste ano e integrou a equipe de transição do governo eleito, na área de desenvolvimento social. Nascida em mato Grosso do Sul, foi vice-governadora, secretária de Governo, deputada estadual e prefeita de Três Lagoas. Integrou a CPI da Pandemia e a comissão de impeachment que analisou o afastamento de Dilma Rousseff. É professora e mestre em Direito.
  • Turismo: Daniela do Waguinho – Deputada federal reeleita com maior número de votos do estado, foi secretária de Educação e de Assistência Social, ambas do Rio, e de Assistência Social e Cidadania de Belford Roxo. É pedagoga e casada com Waguinho, prefeito de Belford Roxo e presidente do União Brasil no Rio.
  • Casa Civil: Rui Costa - É o atual governador da Bahia, cargo que ocupa há quase oito anos. Não participou das eleições deste ano para se dedicar a ajudar Lula entre os eleitores do Nordeste. Já foi deputado federal pelo mesmo estado, mas nunca ocupou nenhum posto no primeiro escalão do governo. Terá o desafio de coordenar boa parte do funcionamento político da gestão de Lula.
  • Economia: Fernando Haddad – Formado em direito, tem mestrado em economia e doutorado em filosofia. Foi prefeito de São Paulo, de 2013 a 2017 e ministro da Educação, de 2006 a 2012, nos mandatos de Lula e Dilma Rousseff. Ajudou a implementar políticas nacionais como o ProUni e do Fies. Embora seja reconhecidamente um intelectual, a pouca familiaridade com a pasta tem colocado dúvidas quanto à gestão que exercerá.
  • Defesa: José Múcio Monteiro - Foi ministro de Lula durante a primeira passagem do petista na Presidência. Saiu para assumir o cargo de ministro do Tribunal de Contas da União, até o início deste ano.
  • Relações Exteriores: Mauro Vieira – Diplomata de carreira, com formação no Instituto Rio Branco, ocupou a mesma pasta de janeiro de 2015 a maio de 2016, durante a gestão de Dilma Rousseff. Antes de ser indicado para o posto, estava atuando como embaixador do Brasil na Croácia.
  • Justiça e Segurança Pública: Flávio Dino – Foi juiz federal por 12 anos, quando deixou o cargo para se candidatar a deputado federal, em 2006. Durante o governo de Dilma Rousseff, ocupou a presidência da Embratur. Foi governador do Maranhão de 2014 ao início deste ano, quando renunciou para se candidatar a senador, sendo eleito em outubro. Este será o primeiro ministério que irá comandar.
  • Relações Institucionais: Alexandre Padilha – Atualmente é deputado federal pelo PT. Foi ministro na mesma pasta durante o primeiro governo de Lula. Médico, assumiu o Ministério da Saúde no governo de Dilma Rousseff.
  • Secretaria-Geral: Márcio Macêdo – Está no segundo mandato de deputado federal por Sergipe. Foi eleito pela primeira vez em 2010, ficando até 2014. Em 2020, voltou à Câmara depois da cassação do deputado Valdevan Noventa (PL). É a primeira vez que vai assumir um cargo alto na administração pública.
  • Advocacia-Geral da União: Jorge Messias – É procurador da Fazenda Nacional, cargo que faz parte da AGU. Atuou no comitê de transição de Lula. Ganhou notoriedade nacional durante uma gravação realizada durante a Operação Lava Jato, em que a então presidente Dilma Rousseff pedia para que ele agilizasse a assinatura do termo de posse de Lula como ministro, meses antes da cassação dela. A baixa qualidade do áudio fez com que o nome dele soasse como "Bessias".
  • Ministério da Saúde: Nisia Trindade – É a atual presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Apesar de não ter formação em medicina, foi a primeira mulher a assumir o posto na instituição, em 2017, por nomeação do ex-presidente Michel Temer.
  • Ministério da Educação: Camilo Santana – Ex-governador do Ceará, manteve-se no cargo até abril deste ano, quando renunciou para se candidatar a senador, cargo para o qual foi eleito. Assumirá um cargo na Esplanada pela primeira vez.
  • Ministério da Gestão: Esther Dweck – É professora adjunta do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Vai assumir funções que serão desmembradas do Ministério da Economia, atualmente comandado por Paulo Guedes. É a primeira vez que assumirá um cargo político.
  • Ministério dos Portos e Aeroportos: Márcio França – Foi governador de São Paulo no fim de 2018, quando Geraldo Alckmin deixou o governo para disputar a Presidência da República. Neste ano, chegou a ser cotado como candidato a governador, mas disputou uma cadeira ao Senado, por São Paulo. Acabou perdendo.
  • Ministério da Ciência e Tecnologia: Luciana Santos – É vice-governadora de Pernambuco e presidente nacional do PCdoB. Já foi prefeita, deputada estadual e deputada federal. Será o primeiro cargo que irá ocupar na Esplanada.
  • Ministério da Mulher: Cida Gonçalves – Já foi secretária nacional de políticas de enfrentamento à violência contra as mulheres, nos governos de Lula e Dilma. Apesar da proximidade com ambos os presidentes petistas, nunca ocupou ministérios nas gestões anteriores do partido.
  • Ministério do Desenvolvimento Social: Wellington Dias – É um dos membros mais antigos do Partido dos Trabalhadores. Ocupou diversos cargos no Legislativo, até ser eleito governador do Piauí, em 2014. Ficou no posto até o início deste ano, para concorrer ao Senado pelo mesmo estado. Apesar de ter sido eleito, vai começar o ano na Esplanada, em uma das principais pastas.
  • Ministério da Cultura: Margareth Menezes – Atriz, cantora e compositora, nunca se envolveu diretamente na política, embora tenha declarado apoio a petistas no passado. A nomeação lembra quando Lula escolheu Gilberto Gil, em 2002, para ocupar a mesma pasta. É altamente conceituada no meio artístico. Já foi indicada aos prêmios Grammy Awards e Grammy Latino.
  • Ministério do Trabalho: Luiz Marinho – Ocupou a mesma pasta na primeira passagem de Lula, atuando no cargo de julho de 2005 a março de 2007. Depois, assumiu o Ministério da Previdência, até junho de 2008. Teve início na carreira política no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, mesma agremiação de onde surgiu Lula. Também foi deputado federal e prefeito de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
  • Ministério da Igualdade Racial: Anielle Franco – É jornalista e professora universitária. Atuava diretamente na vida política da irmã, a vereadora Marielle Franco, morta a tiros em 2018, durante um atentado, no Rio de Janeiro. Desde então, criou um instituto em memória da irmã, onde defende a questão dos direitos humanos e da igualdade racial e de gênero.
  • Ministério dos Direitos Humanos: Silvio Almeida – É advogado, filósofo e professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo. É um dos principais especialistas do Brasil em questões de diferenças étnico-raciais.
  • Ministério da Indústria e Comércio: Geraldo Alckmin - Médico de formação, é um dos políticos mais experientes do Brasil, vai acumular a pasta com as funções da vice-presidência. Chega à Esplanada pela primeira vez, apesar de já ter sido governador de São Paulo por quatro mandatos, deputado federal, prefeito e senador. Em 2021, mudou de partido e filiou-se ao PSB, onde concorreu ao lado de Lula.
  • Controladoria-Geral da União: Vinícius Carvalho – É advogado, sócio do escritório VCMA, de São Paulo. Foi membro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que chegou a presidir a partir de 2012. Também ocupou Secretaria de Direito Econômico, vinculada ao Ministério da Justiça, durante a gestão de José Eduardo Cardozo.

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