A Operação Nova Medellín
A delação de Ronnie Lessa sobre o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes detalha os últimos momentos do crime, explica como a milícia mata adversários e expõe a infiltração dos criminosos na política e na burocracia do Rio de Janeiro.
Ao apresentar um resumo do que sabe à PF, intitulou a 'carta' de "Operação Nova Medellín". O nome é uma referência ao plano para a regularização de dois bairros, Nova Medellín I e II, para venda de terrenos. O lucro previsto era de 100 milhões de reais.
O ex-policial militar conta, por exemplo, que foi difícil alcançar o carro dirigido por Torres, pois "o rapaz acelerava e até parecia que estava fugindo".
O crime só foi consumado porque o carro onde estava Marielle parou no farol. E Lessa diz que só descobriu também ter assassinado o motorista da vereadora quando viu imagens recebidas no WhatsApp por um dos garçons do bar Resenha, local onde foi após o crime.
O delator conta que dias antes do assassinato da vereadora testou a submetralhadora (roubada da PF) e o silenciador usados no crime num terreno abandonado devido a uma disputa judicial de mais de 20 anos. No local costumava funcionar um motel chamado Taba. Foi lá que ele diz ter mirado no solo e efetuado seis disparos - que a Polícia Federal não conseguiu encontrar seis anos após o crime.
Um dos carros com placas falsificadas usados para monitorar Marielle foi obtido com um policial de nome Marcinho, parente de um homem que pretendia dar um "tombo no seguro". O veículo foi 'roubado' sem direito à bateria, usada pelo Tio Mauro "no barco de pesca dele", segundo Lessa, que não soube especificar qual o modelo do automóvel guinchado por estar estacionado em local proibido.
O ex-PM contou que Macalé, um dos envolvidos na morte de Marielle Franco, fazia a segurança de Celso Cury, empresário acusado de integrar o 'QG da Propina' descoberto pelo Ministério Público durante a gestão de Marcelo Crivella na Prefeitura do Rio de Janeiro.
Lessa disse à Polícia Federal deixou de matar Marielle numa ocasião porque Macalé estava trabalhando para Cury, investigado pelo MP fluminense por suspeita de ligação com Rafael Alves, apontado como operador do esquema operado na prefeitura carioca.
Segundo a investigação, Alves, que teria dinheiro para receber do empresário, cobrava propina para facilitar a assinatura de contratos e pagamentos de dívidas municipais. A apuração do MP embasou buscas e apreensões em 2020. Dentre os alvos estavam Crivella, Eduardo Lopes e Mauro Macedo.
Lopes assumiu o cargo deixado no Senado pelo pastor devido à vitória na eleição municipal daquele ano, e Macedo atuou como tesoureiro do então prefeito. Foi a jornada dupla de Macalé que levou Élcio Queiroz, motorista do Cobalt usado no crime, a ser incluído no plano pensado por Rivaldo Barbosa, delegado da Polícia Civil fluminense apontado também como responsável por atrapalhar as investigações.
Num dos trechos da delação, Lessa diz que o assassinato não era solucionado porque Rivaldo "empurrou com a barriga até o final da intervenção federal". Um dos meios usados foi a troca de comando da investigação. Acuado pela pressão federal que partia de Raquel Dodge, então procuradora-geral da República, ele deixou o caso nas mãos de seu aliado Giniton Lages, segundo dos cinco delegados nomeados para o caso.
Porém, Lessa destaca que Giniton só assumiu o problema para subir na carreira. Veja na imagem abaixo:

Outra saída de Rivaldo para desviar foco federal foi oferecer, segundo Lessa, 10 terrenos ocupados ilegalmente pela milícia para Orlando Curiacica, bicheiro já preso, assumir a responsabilidade pelo assassinato de Marielle. A oferta milionária foi a primeira tentativa de impedir que as autoridades chegassem ao ex-PM, além de Domingos e Chiquinho Brazão.
Noutro momento, Rivaldo tentou ligar a morte de Marielle ao vereador Marcello Siciliano usando um criminoso apelidado de Ferreirinha para mentir em depoimento à PF. Quando nada funcionou, ainda de acordo com Lessa, os Brazão ficaram furiosos porque Rivaldo, antes considerado "na mão", pulou fora.
Domingos e Chiquinho teriam prometido "baixar a poeira a qualquer custo", indo "por cima", acionando "promotores, desembargadores". A confiança da dupla na cumplicidade dessas autoridades existiria, narrou o miliciano, porque eram "tudo irmão", "tudo vizinho".
Notícia corrigida às 12h27 de 8 de junho de 2024: Ao contrário do que havia sido informado, a "Missão Medellín" não se referia apenas ao assassinato de Marielle, mas a todo o plano, chamado de Operação Nova Medellín, para regularização de terrenos avaliados em 100 milhões de dólares.
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