Boca contra números

Leandro Loyola
Publicada em 25/09/2024 às 17:26
Na ONU, palavras bastam. Mas as agências de risco precisam de números Foto: Brazil Photo Press/Folhapress

Ao se encontrar com representantes das três principais agências de classificação de risco – S&P, Moody´s e Fitch -, o presidente Lula tenta resolver com diplomacia e discurso os problemas criados pelos atos do seu governo. Lula quer que as agências elevem a classificação do Brasil, algo difícil diante da situação fiscal, construída pela própria gestão.

“É importante que vocês saibam da boca do presidente da República o que que está acontecendo no Brasil. Não precisa ouvir só Faria Lima, empresários, ouça trabalhadores e presidente da República", disse Lula num encontro em Nova York.

A questão é que, se os números da economia estivessem em ordem, Lula não precisaria promover o encontro, os números bastariam. As agências podem ouvir promessas, mas decidem em cima de números para tomar decisões. A elas interessa mais o que investidores e empresários têm a dizer do que trabalhadores. É difícil, apesar da boa vontade, elevar a classificação de um país emergente com dívida equivalente a cerca de 80% do seu PIB e que evita adotar um programa sério de corte de gastos .

Lula pode prometer às agências que apoiará o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em políticas de controle fiscal. Mas as atitudes do governo não ajudam. O arcabouço fiscal, uma medida positiva no início, está sob desconfiança. Tudo feito até agora tem sido no sentido de ampliar receita, em vez de cortar despesas, um método mais efetivo para acertar as contas.

Agências como as três servem para analisar a situação financeira de países e dar notas. De acordo com essas notas, investidores decidem se vale ou não à pena investir no país. Em 2008 o Brasil atingiu o “investment grade”, nível que indica saúde financeira, mais segurança e atrai investidores.

Perdeu a condição em 2014, no governo Dilma, durante a temporada do descontrole do gasto público e a aventura das pedaladas fiscais. Recuperou um pouco de espaço e hoje está a dois degraus de voltar a onde estava. Mas a subida é difícil. Encontros, discursos e boa vontade valem pouco diante de atitudes e números.

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