A consultoria do ex-ministro do MME

Samuel Nunes
Publicada em 24/01/2023 às 17:39
Bento Albuquerque diz que não sugeriu ninguém, mas confirmou ter se reunido duas vezes com o atual ministro de Minas e Energia Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

O ex-ministro das Minas e Energia Bento Albuquerque conseguiu uma proeza em Brasília. Comandou a pasta em boa parte do governo de Jair Bolsonaro, mas não ficou longe da Esplanada após a posse de Lula. Oito meses depois de deixar o cargo, tornou-se um dos conselheiros do ministro Alexandre Silveira. Circula com autoridade na pasta. Agora, como consultor de empresas e conselheiro independente da OEC Engenharia - empresa da antiga Odebrecht, cuja holding também mudou de nome com a Lava Jato e agora se chama Novonor.

A nova fase da carreira de Bento começou em novembro. O ex-ministro e um de seus filhos abriram uma empresa de consultoria. No mesmo mês, ele virou conselheiro independente da OEC Engenharia. Bento manteve indicados em cargos estratégicos do setor - sobretudo Marisete Dadald, que virou conselheira da Eletrobras após ser, por anos, a número 2 do então ministro de Bolsonaro. (Marisete foi uma das principais arquitetas da privatização da Eletrobras.)

Nas últimas semanas, Bento se reuniu duas vezes com o atual chefe da pasta, Alexandre Silveira, com quem diz ter "trocado experiências". Segundo duas fontes que participam das tratativas para a nomeação de cargos na pasta, o ex-ministro indicou ao menos três nomes que trabalharam com ele para compor o ministério atual. O ex-ministro nega. A Odebrecht, ou OEC, por sua vez, diz que "desconhece qualquer iniciativa" nesse sentido.

As duas reuniões de Bento com Alexandre Silveira, segundo o ex-ministro, ocorreram durante a primeira semana do governo Lula. O ex-ministro participou da posse de Silveira e também da troca de comando na Marinha, onde ele é almirante de esquadra reformado.

"Ele me pediu para que eu transmitisse a minha experiência no ministério. Depois estive com ele na última quinta, na posse do novo comandante da Marinha", afirma Bento.

O ex-ministro de Bolsonaro disse que se sentiu na obrigação de ajudar o novo chefe da pasta, embora o sucessor dele, Adolfo Sachsida, nem sequer tenha comparecido à posse de Silveira. "Acho que é até um dever meu, independente do governo A, B, C ou D", diz. Diante da nova ocupação do ex-ministro, é legítimo questionar se os conselhos são desinteressados e divorciados das atividades empresariais dele como consultor de empresas e conselheiro independente da Odebrecht.

Diz a Odebrecht, ou OEC: "A empresa não realiza ou autoriza qualquer tipo de esforço para influenciar direta ou indiretamente a composição dos quadros do setor público. Tanto a construtora, como a Novonor, sua controladora, atuam sob as mais recomendadas normas de conformidade e seguem comprometidas com uma atuação ética, íntegra e transparente”.

Segundo Bento, ele se aproximou de Silveira quando ainda estava na pasta. O atual ministro é senador por Minas Gerais, pelo PSD. Também citou uma proximidade com Jean Paul Prates, senador indicado para assumir a presidência da Petrobras.

"Eu confesso que quando o nome dele [Albuquerque] foi confirmado, eu fiquei feliz. Torço para ele. Aquilo que ele precisar de ajuda, no sentido de contribuir, no sentido de experiência, quando demandado, deve transmitir", diz.

Sobre os nomes que circulam para indicações no ministério, Bento fez questão de ressaltar o de Bruno Eustáquio. Segundo o LinkedIn pessoal de Bruno, ele já teve diversos cargos em governos distintos, desde Dilma Rousseff, passando por Michel Temer e seguindo no governo Bolsonaro.

Atualmente, ele trabalha como conselheiro em duas empresas privadas: a Santo Antônio Energia e na concessionária que administra o Aeroporto de Viracopos. A empresa que comanda uma das hidrelétricas do Rio Madeira, em Rondônia, também faz parte do grupo Novonor.

"O Bruno Eustáquio era um nome técnico, no governo de transição [de Temer para Bolsonaro], estava no PPI de infraestrutura. Foi lá que eu o conheci", diz Bento sobre o ex-secretário-executivo adjunto da pasta de Minas e Energia. O nome dele era cotado para ser o número 2 da pasta na gestão de Alexandre Silveira, mas foi vetado pelo Planalto.

O Bastidor questionou o ministro Alexandre Silveira sobre a natureza de sua relação com Bento Albuquerque, assim como acerca do teor das conversas entre eles na pasta. Não houve resposta.

Atualização às 19h57 de 24 de janeiro de 2023: o texto acima foi alterado para incluir a posição da Odebrecht sobre o assunto e o termo "independente" nos dois trechos que não indicavam Bento como "conselheiro independente".

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