O cerco a Mohamad
A Copape, empresa de petróleo e gás natural investigada pelo Ministério Público por suspeita de ligação com o PCC, não conseguiu autorização da Justiça Federal do Distrito Federal para voltar a funcionar após ter sua outorga revogada pela Agência Nacional de Petróleo. Em decisão publicada na segunda-feira (5), o juiz Rafael Leite Paulo declarou a incompetência da 3ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal para tratar do caso. O Bastidor teve acesso aos autos. É mais uma numa série de derrotas judiciais da empresa e de seu dono, Mohamad Hussein Mourad.
Na ação, a Copape pedia a suspensão do processo da ANP. Os advogados da empresa disseram que as acusações têm como base uma campanha difamatória dos concorrentes. Também afirmaram que poderia haver desabastecimento caso ela fosse derrotada na justiça. Não adiantou. Após ouvir as partes, o juiz determinou a transferência do julgamento para uma outra vara do TRF1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região).
A decisão da ANP – que impediu a Copape de exercer atividades de formulação e distribuição e de atuar como agente de comércio exterior – foi publicada no mês passado. Levou em consideração irregularidades praticadas pela empresa. Somente na esfera administrativa, a Copape é acusada de infringir regras na comercialização, no exercício da atividade e no armazenamento de combustível.
A empresa, que tem como donos formais os empresários Mohamad Hussein Mourad e Renato Steinle Camargo, também é alvo do Ministério Público de São Paulo. O caso foi revelado pelo Fantástico, da TV Globo. O MP ofereceu denúncia em que acusa a Copape e a distribuidora Áster, do mesmo grupo, de sonegarem cerca de 1 bilhão de reais em impostos. De acordo com o órgão, os esquemas de fraudes fiscais aumentaram a concorrência desleal em redes de postos de gasolina. A Justiça acolheu a denúncia.
Além dos dois empresários, a esposa de Mohamad, Silvana Correa, também virou ré. As fraudes consistiam em importar gasolina como se fosse nafta, uma matéria-prima derivada do petróleo. A entrada do produto no Brasil era registrada no Tocantins, por meio da empresa Terra Nova Trading, e não em São Paulo, onde a Copape e a Áster estão localizadas. A manobra fiscal reduzia a base de cálculo de tributos de 25% para 1%.
As suspeitas contra a Copape e a Aster vão além. O MP também investiga uma ligação de Mohamad com organizações criminosas, como o PCC. O empresário seria o controlador de mais de 50 postos de gasolina e de empresas do setor que estariam em nome de laranjas.
Com base em informações do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), as autoridades paulistas dizem que os valores obtidos com o esquema iam para contas mantidas por pessoas ligadas a Mohamad. Só a esposa do empresário teria movimentado mais de 210 milhões de reais em seis anos. Foi ao seguir o caminho do dinheiro que os promotores encontraram evidências de ligação com negócios do crime organizado violento, sobretudo o PCC.
Silvana chegou a recorrer ao Superior Tribunal de Justiça com um pedido de habeas corpus. A defesa da ré alegou que houve ilegalidade no repasse das informações do Coaf ao MP. O ministro Jesuíno Rissato, no entanto, disse que não houve qualquer irregularidade na transferência dos dados. Negou o HC.
A Copape nega que seja investigada pelo Ministério Público e diz que as notícias e "afirmações são mentirosas e fruto de uma maliciosa estratégia de guerra comercial".
As ações da ANP e do MP foram elogiadas por associações ligadas ao mercado de combustíveis no Brasil. O Instituto Combustível Legal disse que o “caso em questão revela-se essencial quanto a necessidade de prevenção à concorrência desleal”.
Um comunicado conjunto de entidades do setor ressaltou a importância de “frear determinadas empresas ou grupos econômicos que reiteradas vezes já demonstraram atuar em desconformidade com diversas regras de mercado legais, notadamente a ordem tributária”.
Nesta semana, a Copape voltou a ser punida pela ANP. A agência interditou a empresa investigada e determinou que ela cesse imediatamente todas as atividades relacionadas à formulação de combustíveis até que a irregularidade constatada seja reparada e a empresa receba aval para retomá-las.
Negócios suspeitos de família
PF investiga contratos do marido de deputada Elcione Barbalho com governo de seu filho no Pará
Leia MaisSTJ dá isenção de custas judiciais a magistrado do TJDFT que ganha 50 mil reais mensais, em média
Leia MaisGoverno aciona STF para ressarcir fraudes no INSS fora do teto de gastos e sem aval do Congresso
Leia MaisCom dificuldade de quórum, CPI termina sem aprovar relatório que indiciava apenas 16 pessoas
Leia MaisCâmara examinará cassação da deputada foragida Carla Zambelli, determinada pelo Supremo
Leia MaisAtacante Bruno Henrique, do Flamengo, é denunciado por participar de esquema de fraude em apostas
Leia MaisMinistro do STF anula condenação de ex-presidente da Petrobras por compra da refinaria de Pasadena
Leia MaisCom Gilmar, STF tem maioria para ampliar a responsabilidade das big techs por conteúdo de usuários
Leia MaisAlexandre de Moraes pede ao Ministério da Justiça a extradição de deputada foragida na Itália
Leia MaisConselheiro pede vista e Cade suspende análise de processo de entidades jornalísticas contra Google
Leia MaisOposição trava votação do novo Código Eleitoral na CCJ do Senado e adia discussão para julho
Leia MaisDino vota por responsabilização das plataformas sem ordem judicial em casos de conteúdo ilegal
Leia MaisCNJ pune desembargadora Sandra Inês, do TJBA, pela 2ª vez - agora, por manter “gabinete paralelo”
Leia MaisCredores menores contrariam grandes grupos econômicos em processo de recuperação judicial
Leia MaisGeneral Paulo Sérgio diz ao STF que discutia apenas uma "Garantia da Lei e da Ordem" com Bolsonaro
Leia Mais