2026 é outra conversa

De acordo com os médicos, a cirurgia de emergência feita nesta terça-feira (10) para drenar um coágulo correu sem problemas e o presidente Lula passa bem. Mas toda a dinâmica em torno da eleição de 2026 será afetada pelo que ocorreu nesta madrugada. A mera possibilidade de Lula não concorrer passa a ser considerada por aliados e adversários com alguma seriedade e suficiente para incentivar disputas.

Lula terá 81 anos em 2026, uma idade considerada alta para o cargo. O mundo político repetirá à exaustão que ele e o PT correm o risco de repetir o que aconteceu com Joe Biden e o partido Democrata nos Estados Unidos há dois meses. A comparação é descabida em quase todos os aspectos, mas nem por isso não será feita.

Biden apresentou sinais de confusão mental, indícios claros de senilidade, num debate contra Donald Trump em junho. Lula não tem nenhum problema que afete sua capacidade de governar. Sua questão foi física - um coágulo na caixa craniana, removido. São situações totalmente diferentes.

Mas dúvidas sobre se a saúde pode impedir Lula de concorrer são suficientes para criar expectativas e motivar discussões sobre cenários alternativos, que não estavam na mesa. Hoje, pouca gente quer se aventurar contra Lula em 2026. Sem ele, todo e qualquer político que considera ter alguma chance – ou que tem apoiadores suficientemente capazes de convencê-lo disso - tentará ser candidato.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, diz hoje que trabalha pela reeleição no estado porque sabe que Lula estará no páreo daqui dois anos. Num hipotético cenário sem Lula, Tarcísio é candidato a presidente – assim como seu colega de Goiás, Ronaldo Caiado. Outros dois governadores, Romeu Zema (Minas) e Ratinho Júnior (Paraná) podem se empolgar.

Com Lula não há outro candidato na esquerda. Sem ele, abre-se uma disputa no PT que inclui, no mínimo, os ministros Fernando Haddad e Camilo Santana (este mais promovido por adversários do pacote fiscal de Haddad do que pela realidade). Isso sem falar em outros possíveis interessados de partidos que só apoiam Lula, não apoiam o PT.

O único pretenso concorrente não afetado pela situação de Lula é Jair Bolsonaro, que já anunciou que apresentará sua candidatura, apesar de estar impedido pela Justiça até 2030. Com ou sem Lula, Bolsonaro se considera candidato, apesar de não poder ser.

A preço de hoje, Lula é o único candidato a presidente garantido em 2026. Seus números em pesquisas de popularidade e os índices de avaliação do seu governo estão longe da excepcionalidade do segundo mandato (2006-10), mas não indicam risco de perder. Apesar de tudo, o mundo político tem agora um cenário alternativo para especular.